quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Outros usaram antes de ti (quem dera assim não fosse)!

Guarda... teus
Segundos de imaginação
Para quem quer acreditar
Comigo não!

Poupa...tuas
Palavras de ilusão
De ser este O dia,
Comigo não!

Há outros antes de ti...

Tenho a consciência magoada de mim
A alma chorada e farta de mim...

Por ti, nem tentes...

O meu corpo ainda quente
A minha cara ainda marcada
Do uso que outros Me deram
antes de ti...

Os olhos ainda raiados
Os lábios ainda molhados
Do prazer
Do uso que outro Me deram
antes de ti...

Os braços fervem
As pernas doem
De saber
Do prazer
Do uso que outros Me deram
antes de ti...

Cabeça gasta
Coração exausto
Das lágrimas
De saber
Do prazer
Do Uso que outros Me deram
antes de ti...

Outros usaram antes de ti (quem dera assim não fosse)!

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Esperança Cor-de-àgua

Nem por um singelo segundo de dia
Consegui desviar-te do meu pensamento
Nunca pensei, sem te Amar,
Que poderia amar-te tanto!

Nunca pedi
Nem a deus(es)
Nem ao diabo(s)
tanto
só por ti...

Estranho sofrimento,
Que não me conduz ao desespero
Que não me conduz à acidez da dor
Nem à adrelina da raiva.

Estranho sofrimento
Que se sustém só por si
E se alimenta de uma calma atroz,
Acalentado de uma esperança cor-de-àgua.

Suave esta angústia
Que nem se atreve a partir de mim
E que se dirige somente a ti
Ao teu bem...

Sem te amar,
Sem mim,
Amei-te como nunca!

Sem te amar,
Sem mim,
Sofro como nunca senti!

Um desejo,
Que acabe,
Que eu respira
E desta vez por só por ti!

(porque por mim aprendi a respirar...)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Apontamento... mil vezes se repete!



"A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.

Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.

Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?

Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.

Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.

Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali."

Álvaro de Campos